Las Vegas é o lugar mais brega e, ao mesmo tempo, mais cool do mundo. O local mais surpreendente e mais óbvio do planeta. Você olha para um lado e diz “é só isso?”. Olha pro outro e fala “uau, é tudo isso!”. Se o slogan ufanista da ditadura clamava a necessidade de amar ou deixar nosso país, o mesmo acontece no deserto de Nevada. Ou você ama essa extravagância altamente iluminada ou já começa a pensar na próxima parada de sua road trip.
Ao verificar um mapa do meio-oeste estadunidense, tem-se a impressão de que Las Vegas está no meio do nada. Bingo!, você está certo. Ok, Los Angeles está a meros 400 km a sudoeste (em um país ainda maior do que o Brasil, qualquer trecho de três dígitos deve ser comemorado). Por outro lado, a menos de 200 km dali encontra-se o Vale da Morte - de nome autodescritivo.
Se você optar por chegar à capital mundial do entretenimento pela estrada, o fator “estamos no cenário de um desenho animado da Acme” deve ser levado em consideração. Chegamos a Las Vegas de ônibus. Grande erro. Nos Estados Unidos, rigorosamente todos têm carro (ou alugam um), o que não pressiona em nada a única empresa do ramo a melhorar seus serviços ou sua frota de ônibus prateados do século passado. E foi um desses Greyhounds que nos deixou na mão. No meio do deserto, às três da tarde. Ou seja, 35 graus lá fora e sem ar condicionado dentro. Saudades da Itapemirim.
Passado o trauma de ficarmos 4 horas parados entre as colinas onde moram o Coiote e o Papa-Léguas com meia garrafa d’água quente, chegamos. De novo, como os EUA não são o país mais amigo do transporte coletivo interestadual, a rodoviária local não se encontra exatamente no fervo de Vegas, e sim na sua zona histórica – utilizando a definição mais simpática possível. Os cassinos da região em nada se assemelham aos glamurosos hotéis que sempre marcam presença nos filmes de Hollywood. Mas calma. Curta essa atmosfera cult enquanto pode porque inevitavelmente você chegará ao seu hotel na Strip.
Agora sim. Como um analgésico instantâneo, as luzes da avenida mais iluminada do mundo vão apagar qualquer má lembrança da jornada até lá. Torre Eiffel no meio, em frente às águas do Bellaggio, o Four Seasons numa ponta e uma torre com um parque de diversão na outra. Bem-vindo a Las Vegas. Deixe suas malas no quarto e vá brincar lá fora.
Após sua pupila se ajustar à luminosidade local (principalmente à noite), comece a pensar quais hotéis você visitará naquela noite. Quem sabe a réplica de Veneza? Ou a ode à Roma Antiga? Opção não falta. Em Vegas, visitar outros hotéis é um dos programas mais bacanas - e obrigatórios. Você pode (e deve!) ir visitar o castelo medieval do Excalibur, o luxo contemporâneo e sem exageros do Aria ou a referência egípcia do Luxor. E já que você está com fome da viagem cansativa, aproveite para fazer uma boquinha. E não tem problema nenhum se já são duas e meia da manhã.
Porém, se você escolher ir cedo para a cama, também aproveitará outro grande atrativo local: os hotéis. Segundo dados de 2012, Las Vegas possui mais de 140 mil quartos de hotel disponíveis aos quase 40 milhões de turistas que vão à cidade anualmente. Curitiba, com uma população 3 vezes maior, possui pouco mais de 7 mil quartos. Dentre os 5 maiores hotéis do mundo, Vegas abriga 4 deles (o penetra Yzmaylovo, em Moscou, Rússia, conta com 7.500 quartos e é justamente o maior do planeta). São 17 entre os 20 mais.
De uns tempos para cá, porém, os grandes hotéis-cassinos se esforçaram para provarem que são muito mais do que isso. Conseguiram. É só ver a quantidade de shows de música, de mágica, de circo, de qualquer forma de entretenimento que a cidade oferece. Um prato cheio para quem sonha em ver Rod Stewart cantando apenas para você em um teatro lotado ou adora ser enganado pelos melhores mágicos deste planeta. Nem dá tempo de jogar.
A Meca do Black Jack descobriu que ter os cassinos mais fantásticos do mundo era ótimo, mas também se fazia necessário dar opção de entretenimento aos filhos e às mulheres de quem efetivamente joga Black Jack. E assim a capital mundial do jogo foi diversificando suas áreas de atuação. Hoje, por exemplo, é a casa oficial do Cirque Du Solei além de contar com shows fixos de diversos cantores cujos DVDs seu tio tem aos montes. Pink recentemente esnobou um convite desse tipo, mas dê um pulinho em 2034 com sua máquina no tempo e diga se o pessoal não está cantando “Who Knew” a plenos pulmões no teatro do MGM. Quem diria.
Porém, se hoje (ou em 2034) Las Vegas é a Disney dos adultos, nem tudo parecia uma roda-gigante do Mickey no início desse império no meio do deserto. Até 1931, a cidade era basicamente um ponto de descanso na rota para o Oeste estadunidense. Após a legalização do jogo, no entanto, o foco mudou. Os primeiros hotéis-cassinos do que viria a ser batizado de A Cidade do Pecado foram surgindo principalmente a partir da década de 1940 – assim como as relações promíscuas com a máfia (o gângster Bugsey Siegel, por exemplo, foi o fundador do Flamingo, o cassino que praticamente deu início à Strip).
Os anos se passaram e os figurões do crime organizando foram sendo assassinados aqui e ali. Assim como uma série de outros fatores, como investigações do jornal local e controle federal do jogo, Las Vegas foi se libertando das amarras da máfia. A atual era dos megaresorts começou em 1989 com a construção do Mirage e a subsequente revitalização da avenida mais importante da cidade – e não parou mais.
Hoje, quem chega a Las Vegas (depois de ter sobrevivido à estrada deserta e de ter se decepcionado com a parte mais velha da cidade) encontra o exagero misturado com o bom-senso. Olha pra um lado e vê dois M M’s gigantes de plástico, vira a cabeça para o outro e se depara com uma imitação perfeita do Palazzo Ducale de Veneza. No fim das contas, Vegas é uma cidade engraçada. Vá e descubra se você acha melhor rir dela ou rir com ela.
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